Com uma origem remota na primitiva Escola Industrial Faria Guimarães, ao Campo 24 de Agosto (1884/1885), a Escola Aurélia de Sousa é criada pelo Decreto-Lei nº 37028 de 25 de Agosto de 1948, do Ministério da Educação Nacional, no quadro da Reforma de 1948, que dá prioridade ao ensino técnico, dada a crescente industrialização e a necessidade de mão-de-obra mais qualificada.
Destinando-se a uma frequência feminina, ocupando duas casas na rua D. João IV e uma terceira na esquina da rua Firmeza, nela passa a estar integrada a Oficina de Rendas de Vila do Conde, que assim permaneceu até 1976. Fica dependente da recém-criada Escola Industrial Soares dos Reis, funcionando de forma autónoma, com uma Directora, só a partir de 1952; em 1958 instala-se no edifício que hoje ocupa, abrindo portas a 1500 alunas.
A Escola oferece inicialmente o Ciclo Preparatório técnico e o Curso de Formação Feminina, com as espacializações de Bordadeira – Rendeira, Modista de Vestidos, Modista de Chapéus e Modista de Roupa Branca. A criação de uma Secção Preparatória em 1955/56 proporciona às alunas o acesso ao Instituto Industrial / Comercial e à Escola Normal (Magistério Primário).
Nos anos 60, a população escolar que procura o ensino técnico cresce e a escola rapidamente tem falta de espaço, situação que se agrava a partir do ano lectivo de 1968/69, com o funcionamento de uma secção do Ciclo Preparatório Unificado, criado pela Reforma de 1967, e que tem grande procura, o que conduz à sobrelotação do edifício e à degradação das condições pedagógicas – em 1968 frequentam a Escola 2210 alunas, num edifício com capacidade para 1000.
A partir do início da década de 70 passam a funcionar os Cursos Complementares de Artes dos Tecidos e Secretariado e Relações Públicas.
A Revolução de 25 de Abril obriga à reorganização da Escola em novos moldes: são eleitos os órgãos de gestão e em Março de 1977 reúne-se o primeiro Conselho Pedagógico. Organizam-se as Associações de Pais e Alunos.
Sucede-se a unificação do ensino secundário: em 1975/76, inicia-se o funcionamento do 7º Ano do Curso Geral e em 1977/78, já funciona o 9º ano, com várias opções (Saúde, Quimicotecnia, Introdução às Actividades Económicas, Arte e Design).
Reorganiza-se o ensino complementar (10º e 11º Anos) – a partir de 1978/79, os alunos passam a poder frequentar cursos das áreas de Estudos Científico-Naturais (que predominam), Económico-Sociais, Humanísticos e das Artes Visuais, variando as opções da Formação Vocacional conforme os pedidos dos alunos e a disponibilidade da Escola, quer em meios humanos quer materiais (Saúde; Quimicotecnia; Contabilidade e Administração; Administração Pública; Jornalismo e Turismo; Introdução às Artes Plásticas, Design e Arquitectura; Artes e Técnicas dos Tecidos).
Em 1980/81 é criado o 12ºAno: 1º Curso, via de ensino (Saúde) e Curso de Desenho Têxtil, via profissionalizante. Os restantes cursos vocacionados para prosseguimento de estudos não funcionam por manifesta falta de espaços. A abertura dos Cursos Complementares e o número elevado de turmas só são possíveis porque, em 1979/80, o Ciclo Preparatório passa a ocupar um edifício próprio – a Escola Preparatória de Paranhos.
Pelo Decreto-Lei nº 80/78, deixa de ser Escola Industrial e passa a Secundária. Em 1982/83 abrem os Cursos Complementares de Artes dos Tecidos e Desenhador Têxtil, destinados a oferecer continuidade de formação a antigas alunas para professoras de Trabalhos Manuais e a responder a previsíveis desafios para a indústria têxtil, com a integração de Portugal na CEE. Estes cursos funcionam até 1986/87, em regime nocturno.
Sempre fazendo jus às suas origens e ao prestigiado nome da pintora que a identifica, abriu, em 1985/86, um curso técnico-profissional de Técnico de Moda que, apesar do grande sucesso alcançado nos primeiros anos de funcionamento, termina em 1994/95 – o que se explica, entre outras razões, pela criação dos cursos tecnológicos. A introdução deste curso trouxe, no entanto, uma mais-valia para a Escola, que se mantém até hoje: o gabinete de Psicologia, inicialmente para apoio dos alunos do Curso, mas que se generalizou a todos os alunos da escola, com um amplo campo de actuação.
A partir da década de 80, o Conselho Pedagógico transforma-se em protagonista fundamental da dinamização da escola e, da sua interligação com os novos formandos (Profissionalização Em Exercício), resulta uma dinâmica que produz o novo Regulamento da Escola, Planos de Formação de Professores que privilegiam temáticas relacionadas com as novas pedagogias, novo sistema de avaliação, integração em projectos (Projecto Minerva, Projecto Vida, …),realização de acções de carácter cultural sistemáticas (exposições, palestras, saraus, jogos florais,…), dinamização dos núcleos de Fotografia, Teatro, Desporto, início do Clube Europeu, criação do jornal da Escola. Ao mesmo tempo vai-se procedendo à reorganização gradual da Biblioteca e é criada a sala de audiovisuais, assim como se criam e reformulam outros espaços (bufete, gabinete médico com equipa respectiva, gabinete do NASE, laboratórios de Química e Biologia). Intensificam-se as relações com o meio, particularmente com a Junta de Freguesia do Bonfim, com a qual passa a existir um frutuoso intercâmbio, nomeadamente no âmbito do recém-criado Conselho Consultivo.
Na década de 90 surge a nova Reforma do Sistema de Ensino, que prolonga o Ensino Básico até ao 9º ano de escolaridade e define novos planos curriculares para o Básico e para o Ensino Secundário, que passa a integrar o 12º ano.
Em 1992/93 funciona pela primeira vez o 7º Ano do 3º Ciclo do Ensino Básico e em 93/94 e o 10º Ano do Ensino Secundário. No ano lectivo de 1995/96, por determinação da rede escolar, funcionam na Escola turmas dos agrupamentos 1, 2 (Geral, Tecnológicos de Artes e Ofícios e de Design), 3 e 4.
Em resposta às novas exigências do sistema, procede-se ao reforço do papel do Director de Turma, atribuindo-se-lhe mais uma hora de redução no Ensino Básico; inicia-se a reflexão e elaboração do 1º Projecto Educativo da Escola, tornado obrigatório com a publicação do Decreto-lei nº 115 – A/98; reformula-se o Regulamento Interno para dar resposta à nova filosofia que preside ao Ensino Básico obrigatório, e experimentam-se novas respostas para o insucesso através de alternativas na formação de turmas e de Currículos Alternativos.
São aprovados superiormente os Clubes Europeu, de Fotografia, de Biologia. Funciona, sem redução de horas, o Clube de Tecelagem e Tapeçaria. Inicia-se o Grupo de Teatro. A Escola envolve-se na discussão do Programa Foco e na Formação do Centro de Formação João de Deus.
Com a entrada da Reforma do Ensino Básico e Secundário em vigor, introduzidas, respectivamente, pelos Decretos-Lei nºs 6/2001 e 7/2001, na definição da rede, e considerando-se como princípio a diversificação de vias, a Escola oferece, a par de todos os cursos científico-humanísticos, os cursos tecnológicos de Marketing, Ordenamento do Território e Design de Equipamento. Nenhum funciona por falta de procura.
Em 2006/07, respondendo ao repto lançado pela tutela e ao entendimento internamente reiterado de que deveria abrir uma via alternativa ao ensino “regular”, inclui, com sucesso, o Curso Profissional de Técnico de Turismo e integra ainda duas turmas do Curso Tecnológico de Marketing da Escola Secundária/3 Oliveira Martins, entretanto extinta.
Em 2008/09 abre o Curso Profissional de Técnico de Marketing. No âmbito da requalificação das escolas secundárias, levada a cabo, a nível nacional, pelo governo, o edifício da Escola é palco de transformações profundas que pretendem requalificá-la para as próximas décadas, assumindo a Parque Escolar, empresa responsável pelas obras, o compromisso de harmonizar o antigo com o moderno. E apesar de todo o edifício estar a ser intervencionado, a Associação de Pais optou pela permanência de todos os alunos, alternativa à sua deslocação parcial para a Escola António Nobre. Apenas as aulas de Educação Física foram afectadas, tendo sofrido redução do horário semanal no Secundário e tendo passado a ser leccionadas no Perpétuo Socorro; os alunos do Ensino Básico não tiveram esta disciplina.
Não tendo nunca lutado pela exclusividade do ensino secundário, a Escola é hoje frequentada por cerca de 1200 alunos, em regime diurno, distribuídos pelo Ensino Básico e Secundário.
Aurélia de Sousa
(VALPARAÍSO, 13 DE JUNHO DE 1861 — PORTO, 26 DE MAIO DE 1922)
Filha de emigrantes portugueses no Brasil e no Chile, Aurélia de Sousa nasceu em Valparaíso, filha de António Martins de Sousa e de Olinda Peres. Era a quarta de sete filhos do casal. Mudou-se para Portugal, juntamente com os pais, com apenas três anos. Passou a habitar a Quinta da China, junto ao rio Douro, no Porto, comprada por seu pai, que veio a falecer em 1874, quando Aurélia tinha apenas oito anos. Aos dezasseis anos, começou a ter lições de desenho e pintura com António da Costa Lima e pintou o seu primeiro auto-retrato. Em 1893, entrou para a Academia de Belas-Artes do Porto, onde foi aluna de João Marques de Oliveira, o qual muito influenciou a sua obra. Em 1898, Aurélia mudou-se para Paris onde frequentou, na Academia Julian, os cursos de Jean-Paul Laurens e de Jean-Joseph Benjamin-Constant . Realizou as primeiras exposições e, durante os três anos seguintes, viajou e visitou os museus de Bruxelas, Antuérpia, Berlim, Roma, Florença, Veneza, Madrid e Sevilha. Tendo regressado a Portugal em 1901, desenvolveu intensa atividade como ilustradora e participou regularmente na vida artística portuense, expondo na Sociedade de Belas-Artes do Porto, na Galeria da Misericórdia e, anualmente, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa. Passou a última fase de sua vida residindo na Quinta da China, onde faleceu em 1922, com cinquenta e cinco anos.
A sua obra denota influência dos estilos de pintura mais inovadores do seu tempo. Pintou num estilo naturalista muito pessoal, às vezes com influências realistas, impressionistas e pós-impressionistas. Nas palavras da biógrafa Raquel Henriques da Silva, a obra de Aurélia de Sousa “regista a silenciosa narrativa da casa: a presença da velha mãe, os afazeres das mulheres e das crianças, os cantos escuros da cozinha e do atelier, as tardes em que a luz se confunde com os fatos de verão, os caminhos campestres ou as vistas do rio. Pratica uma pintura vigorosa, raramente volumétrica, detida na análise das sombras para nelas captar a luz” . Entre as suas principais obras, caracterizadas pela força da expressão técnica e artística, encontram-se “Santo António”, “Cabeça de italiano”, “Cena familiar”, “Moinho-Granja”, “Porcelanas antigas”, “Cristo ressuscitando e a filha de Jairo”, “Rio Douro-Areinho” e o seu “Auto-retrato” (c. 1900), uma das obras-primas da pintura portuguesa de todos os tempos. Parte da sua obra encontra-se hoje no Museu Nacional de Soares dos Reis e na Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, ambos no Porto.